Baseado em fato real

Acordou sorrindo, desligou o despertador e foi tomar um banho. Se arrumou pra escola, tomou café, escovou os dentes e penteou o cabelo castanho ondulado. Não sabia se colocava uma flor no cabelo, ou se deixava a franja no rosto. Queria apenas estar bonita para seu amor, que certamente estaria na escola, depois de tantos dias no hospital, com diagnóstico de dengue. 
Seu coração era só felicidade, mas também saudade. Foi até o ponto de ônibus esperar a condução, que a levaria para o encontro de seu amor.
Chegou na escola, e não pode entender a expressão no rosto de cada aluno. Talvez espanto, tristeza, e outros com lágrimas. Sabia apenas que era algo ruim.
Avistou uma garota loira, sentada no pátio, rodeada por algumas meninas. Era a irmã do seu amor, que chorava o tempo inteiro. O suficiente para fazê-la intender o que estava acontecendo. Ainda assim, precisou perguntar para a garota, que era também sua melhor amiga, o que realmente acontecera.
- Cadê seu irmão?, disse retraida e entre lágrimas.
- Num lugar melhor que este, e certamente, com saudades de você.
Se abraçaram e choraram por um bom tempo, sem dizer mais nada. Ao fim do abraço a garota de cabelos castanhos viu tudo girar e logo foi ao chão. Assim aconteceu cada vez que um colega recebia a notícia e ela podia ouvir que o seu amor teria morrido, teria ido embora para nunca mais voltar. Desmaiava talvez, na tentativa de quando acordar, ver aquele rosto masculino e encantador em sua frente, causador de tanto tremor nas pernas e o acelerar de um coração. Desmaiava talvez, na tentativa de encontrá-lo num sonho, ou do outro lado da vida, quem sabe.
No momento que conseguia ficar lúcida, recordava aquele sorriso, aquela voz, aquele perfume, aquele abraço, que nunca mais encontraria igual. Recordava das brincadeiras puras, singelas, e tão apaixonadas. Sentia o amor envolvente, porém, que ainda não era oficial, não era declarado, apenas um segredo compartilhado com poucos amigos.
Em um desses momentos lúcidos, a irmã do garoto, disse à amiga de cabelo ondulado, o que aconteceu no hospital. Contara que o verdadeiro diagnóstico seria infecção generalizada, causada for um corte no pé que ele sofreu e não cuidou, não limpou, nem pôs curativo. O diagnóstico, descoberto tarde demais, de nada serviu quando um organismo já sofria com um sangue contaminado.
Mais lágrimas rolaram, e nenhuma palavra saiu da boca da garota que amava.
A loira disse mais:
- Dois dias antes, perguntei a ele sobre vocês, e quis saber o que realmente envolvia vocês dois. Ele sorriu, e me disse que havia lhe roubado alguns beijos e ganho outros. E com os olhos brilhando me pediu ajuda, pois não sabia como faria, mas queria lhe pedir em namoro assim que saisse do hospital. Ontem pediu para eu comprar um ursinho de pelúcia para você, que está sob a cama dele, num quarto que não sei se conseguirei entrar outra vez. Só posso lhe dizer amiga, que ele te amava. Nunca tinha visto meu irmão tão apaixonado. E com tantas garotas a volta dele, ele sonhava e sorria por você. No hospital ele me contou o quanto cada detalhe seu o apaixonava, e o quanto ele sonhava em constituir família ao teu lado. Escutei-o dizer que por medo nunca tinha lhe pedido em namoro, pois em tempos passados vocês se envolveram e se magoaram. Mas dessa vez ele te amava, não apenas sentia uma paixão, mas amava, e sonhava cada minuto do futuro ao teu lado. Você fez com que ele se dedicasse mais aos estudos, e a família. Aos poucos conheci um verdadeiro irmão, que num curto tempo, desde que passou a te amar, se tornou meu amigo. Ele se foi, mas ficaram boas lembranças e só posso te agradecer por ter feito nascer nele um amor tão bonito, ingênuo e transformador. Obrigada pelo amor que você sempre dedicou a ele. Obrigada!

Ao ouvir essa história, a morte do garoto, muitos a minha volta queriam saber dos pais do garoto, eu quis saber da garota, que não voltou a ser namorada, mas amou tanto e foi amada. Eu chorei, ao sentir um pouco da dor que ela sentiu, em saber que nunca mais veria o amor de sua vida, o menino que ninguém sabia, mas amava. Pensei: como deve está o coração dessa menina, que com tão pouca idade (17 anos), perdeu um amor? Refleti e sei, ela viveu bons momentos , mas tenho certeza que se pudesse.. continuria ao lado dele, realizaria os sonhos dele, que também deviam ser os dela. Mas talvez essa dor, ela nunca supere. Reflito e concluo... se não tivessem tido tanto medo, a história poderia ser melhor, os momentos mais felizes, e o futuro... juntos. Não saberão, não tentaram na 'hora' de esquecer o tal medo. =s

"Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e me lembrar de você. Que sejam doces os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira - quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e e-mails bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doces suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão."
(Caio Fernando Abreu)

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