# Um conto - parte um.

A saudade dói, a perda mais ainda, e a despedida de Sophia e Math não foi nada bonita e delicada.

O adorável Math, alto e magro, de cabelos castanhos e olhos cor de amêndoas, adorava chamar sua pequena de Soph, e só a chamava pelo nome inteiro se estivesse muito bravo. Ele, extremamente apaixonado pela sua menina, doce, de cabelos castanhos e ondulados, com uma voz delicada mais que se tornava irritante quando ela resolvia gritar. Tudo nela era encanto aos olhos do namorado, porém, os erros de Soph eram notórios a todos, e já estava cansando os sentimentos do rapaz. Parecia rotina, talvez desgaste, ou até mesmo ela já nem gostasse mais dele, porém, ela pensava o mesmo a respeito dele. Tudo era difícil, e as conversas de horas e horas já não estavam mais presente entre os dois. Ou era o silêncio dos beijos, ou o silêncio da falta de assunto.
Veio a tempestade. E a relação não suportou o terrível erro de Soph, e Math finalmente se magoou e machucou por completo. Mas ele sabia, a inocência e ingenuidade da menina era o que mais causavam os tantos erros. Sem perceber, palavras, atos, amigos, escolhas, pensamentos, tudo que ela fazia, para Math lhe parecia falta de amor por ele. Desculpas, explicações, conversas, insistência, nada que a garota fazia era suficiente para o garoto machucado. E ela, já nem sabia mais o que fazer.
- Uma viagem, pensou a menina, talvez seja bom, para mim e para Math. Devo entender o que eu sinto, e ele também.
Foi para a casa dos avós no interior de Minas, para passar um mês. Tudo que ela fazia era sentar no gramado, rodeada de flores e arvores, e escrever para seu ex-namorado. E aos poucos Soph pode ver e entender seus erros. Compreendeu o quanto magoara aquele que mais cuidava dela. Aquele que além de namorado, era primeiro seu amigo, que ouvia todos seus problemas, e lhe ajudava. Era por vezes seu pai, brigando com ela e lhe corrigindo, e todas às vezes lhe ensinava o certo. Era o melhor namorado do mundo, que mesmo exausto no fim do dia, lhe dava um beijo e queria conversar. Pode ver, o quanto ela, era má.. a todo instante.
O coração de Sophia sangrava, ao lembrar-se de seus muitos erros, e tantos momentos que dependia apenas dela para ser perfeito, pois Math estava ali, todos os dias, amando, respeitando e vivendo intensamente a mais linda história de amor. Chorava dia e noite, e nem as guloseimas da vovó lhe davam apetite, tão pouco o queijo pelo qual era apaixonada. Emagreceu, e durante dias, não dormiu, pois passava mal. E tudo que ela conseguia pensar era em Math, e no quanto ele devia estar magoado.
A menina intendeu, durante quase três anos, ela amou Math em muitos momentos, mas em tantos outros o fez infeliz. Tudo que ela queria era contar a ele, o quanto ela havia crescido, apesar de saber que ainda era ingênua e imatura, mesmo tendo seus 18 anos, em ocasiões parecia viver aos 14 anos. E deitada na rede, em baixo da arvore, tudo que ela sentia, era vergonha e revolta por quem ela era, ou havia se tornado, e quem não tinha sido para Math. Toda sua revolta era saber, o quanto ela podia fazê-lo feliz, mas se preocupou apenas com a felicidade dela.. sempre tão egoísta!
Os avós não entendiam o que acontecia com a neta, e achavam apenas que o rapaz não merecia tanto sofrimento dela, mas ela sabia.. ela merecia todo aquele sofrimento. Era seu castigo, sua correção.. não ter Math, não ouvir a risada dele, não sentir seu abraço, tão pouco seu beijo, e o cheiro de seu cabelo. Ela chorava compulsoriamente, e percebia.. não sabia nem a musica preferida dele, nem a comida, nem o filme.. não sabia nada sobre Math. E se perguntava: 'o que eu fiz durante tanto tempo ao lado dele? Será que um dia ele sorriu de verdade ao meu lado? Será que ele teve um dia inesquecível ao meu lado? Será que fui importante pra ele?'.. e continuava a chorar. 
Era dolorido só de olhar para a menina. Seus primos nem falavam com ela, nem os tios. Talvez por medo de como ela pudesse responder, e como poderia ser fria e dura com todos. Preferiam deixá-la quieta, mas era impossível ignorá-la. A beleza e delicadeza que ela possuiu um dia haviam desaparecido. Parecia uma morta viva. Magérrima, com olheiras, e nem seu cabelo era mais tão bonito. A menina comunicativa, risonha, havia se perdido no alto do gramado da chácara, e provavelmente ela mesma fez questão de se preservar naquele estado mórbido. Era triste, mas ela sabia.. estava castigando a si própria já que os pais ou avós não lhe deram uma surra.
No fim do mês, Soph estava realmente pior e mais acabada, mas não chorava mais como antes, apenas não dormia ou comia. Numa sexta-feira a noite, ela decidiu que iria embora à segunda após o café da manhã, e chegaria em sua cidade por volta das 5 da tarde. Era o que ela queria, apenas chegar em casa, tomar um banho e durmir em sua cama.
No sábado pela manhã, a garota acordara diferente, mais uma vez, porém dessa, ela parecia mais bonita que antes, e menos triste. Deu um abraço na avó, que tinha cheiro de bolo de laranja, e pediu benção ao avô, alto e sempre sério. Sentou a mesa, comeu de tudo, e se fartou com o queijo, pelo qual ela era tão apaixonada. Foi a ultima a levantar da mesa, e depois ajudou a avó e uma prima com as louças. Deram boas risadas, e todos a olhavam com cara de interrogação. Parecia que ela vivia uma metamorfose ambulante. E ela sabia, era mesmo completamente diferente daquela que chorava o dia todo e não dormia a noite. Mas só ela sabia o porquê da nova transformação.
Pediu informações a avó sobre onde encontrar um salão na cidade, e chamou a prima que também ajudou a avó com as louças, para também ir. Subiram cada uma em uma bicicleta, gritaram 'Bença vó!' e foram para o salão. Ao sair pela porteira da chácara, lhe veio uma lagrima nos olhos, pois lembrara que ela e Math costumavam andar de bicicleta juntos. Enxugou o molhado do rosto, e começou a conversar com a prima.
No salão, precisou quase de um tratamento completo nos cabelos, afinal, se ela lavara o cabelo uma vez na semana, foi muito. E em um mês o brilho e maciez dos cabelos de Soph haviam desaparecido. No fim, estava linda, com os cabelos revigorados, e unhas feitas. Junto à prima, voltaram para a chácara. Tomaram um banho, e às 3 da tarde, as duas e mais dois primos resolveram organizar uma festa. E todos começaram os preparativos, para a festa que fariam no domingo a noite. Não havia um motivo específico, talvez, uma despedida, pois todos iriam embora da chácara dos avós, uns segunda, outros na terça.
No domingo pela manhã, foram todos na igreja. Voltaram e a avó preparou uma bela macarronada com almôndegas, pois sabia, os netos amavam aquela comida. Sentados a mesa, tudo eram risos e brincadeiras, mas todos ainda olhavam para Soph com muitas perguntas a fazer, mas nenhum tinha coragem de lançar a primeira.
Todos ajudaram nos preparativos para a festa. Muitas coisas a avó e duas tias haviam preparado como doces, bolos, tortas salgadas e muitos pães de queijo. O avô foi na cidade comprar salsicha e pães para os cachorros-quente, e refrigerantes. Soph e todas as primas cuidaram das fitas, bolas, flores, e toda a decoração. Os meninos organizaram bingo, jogos, musica, e limparam todo o quintal. De três em três, iam tomar banho; um no banheiro social, outro na suíte dos avós, e outro no banheiro da piscina. Soph, escolheu a suíte, amava a delicadeza dos azulejos com flores rosa do banheiro dos avós, e o cheirinho bom que encontrava nele. Por bom tempo ficou em baixo do chuveiro, apenas sentindo a água, e chorou, outra vez. Pensava em tudo que era ou já nem fosse mais para Math. Mas tinha uma única certeza, ela o amava, e precisou sentir toda a dor que sentira para talvez, conhecer um pouco da dor que provocara em Math. Esfregou o rosto, molhou-o, e deu um sorriso. 
Secou o corpo, os cabelos, e vestiu seu vestido florido que havia escolhido para a festa, secou os cabelos, maquiou os olhos, as maçãs do rosto e pos uma sandália com um leve salto. Estava linda, ela sabia, e sentira falta de saber disso ao se olhar no espelho. Por fim, usou a colônia do avô, que era a mesma que Math usava, forte, amadeirada, e marcante por onde quer que passasse. Tudo que ela queria era ter um pouco de Math ao seu lado, ou em si própria.
....


O desfecho dessa história, conto na próxima postagem!

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