# Um conto - parte dois

Sophia sentou-se na beira da cama dos avós, e olhou para os travesseiros com um tecido branco, macio e decorado com algumas listras verdes em vários tons. E por instantes sentiu inveja dos avós, daquele amor. Mas era uma inveja  boa, e que lhe fazia sonhar em um dia assim como eles, completar tantos anos de casamento, e chegar as Bodas de Ouro. Era tanta admiração pelo respeito e paciência encontrada entre os dois, que lhe trouxe uma lágrima no canto do olho, e antes mesmo que escorresse ela se conteve. Respirou fundo, alisou a cama, e sorriu, de admiração daquele amor. Sentiu que ainda sonhava em ter um amor pra vida toda, assim como seus avós.
Atravessou a casa e foi para o quintal onde quase todos já estavam prontos, e apenas dois primos ainda estavam esperando para ir tomar banho. Um deles, Davi, ficou boquiaberto ao ver Sophia tão bem vestida e tão linda. 
Ela ficou com vergonha ao perceber que não só Davi lhe olhava, mas alguns garotos da vizinhança também a admiravam. Deu um leve sorriso e se sentou ao lado das primas, que como toda garota, sentiu inveja, mas uma inveja ruim, de Soph ter sido a sensação da festa.
Nada falou durante umas três musicas, apenas ouvia as conversas da mesa. Seu pensamento estava longe, mergulhado em suas lembranças e saudades de Math. E todas as palavras lhe lembrava ele, principalmente as mais doces, que sempre faziam parte das cartas e bilhetes e cartões que recebia de seu menininho, como ela gostava de chamá-lo, pois, ele era a criança dela a qual, ela admirava a cada dia ao ver seu crescimento na vida profissional e no carater. Math era a estrela única da constelação de Sophia, e nada nem ninguém conseguia fazê-la se abster dos pensamentos que a deixavam mais perto daquele abraço, aquele beijo, aquele brilho no olhar, nada era capaz de fazer Soph não lembrar de como era bom a companhia daquele menino lindo.
A avó lhe chamou da janela da cozinha, que dava pro quintal, e logo Soph acordou de seus pensamentos. Ajudou arrumando os cachorros-quente na bandeja, e levou para a mesa que estava completamente cheia de delicia e mais delicias. Ela sorriu, havia queijo e goiabada.
Ao voltar para a cozinha, para ajudar em algo mais que fosse preciso, se chocou com Davi. Ele a segurou pelos braços pra que ela não caísse. Riram e ele ficou ali olhando a prima de consideração, e mais uma vez, ela corou. Se equilibrou, e desviou de Davi. A avó que tinha visto tudo, lhe disse bem claramente: 
-Cuidado com ele.
Ela não intendeu de início, mas depois, talvez, compreendera o olhar de repreensão da avó. Nada disse, apenas ouviu. Ajudou um pouco mais na cozinha, e logo voltou para a festa. 
Começaram os jogos e ela amava bingo. Se divertiu muito, riu com todos, e até soltava umas piadinhas que as meninas não intendiam, apenas os garotos e os tios. Ela não intendia porque era tão difícil as meninas não intenderem piadas tão simples. Mas ignorou o fato, e começou a conter-se.
Quase no fim da festa, ela foi colocar uma musica que queria ouvir, e assim que o fez, Davi estava seu lado esquerdo, esperando que ela o olhasse. Susto! Foi o que ela sentiu, pois os passos dele haviam sido tão silenciosos. Ela o fitou, com ar de interrogação. Ele também, pois queria fazer uma pergunta. 
- Soph, você está linda.
- Obrigada -  disse ela, ainda com ar de interrogação.
- É... quero te perguntar algo. Posso?
- Pode. Mas não significa que vou responder. - disse de maneira seca.
Ela teve medo da pergunta, e a única coisa em que pensava, era no aviso da avó. E se perguntará.. 'o que ela quis dizer?'.
- Você passou um mês no alto da chácara, e nada falava com as pessoas. Por que você esteve tão triste e calada? E o que houve de tão mágico para tão grande mudança?
- Eu vim pra cá para me esquecer do meu mundo, mas a única coisa que consegui foi ter certeza que quero o meu mundo, todos os dias. E como e por que, houve tal mudança.. não é da sua conta - disse ela, virando as costas e um pouco ofendida com a intromissão do garoto.
Soph foi pra rede, do outro lado da casa, e longe da festa que acontecia no quintal. O som da musica era menor, e ela pode em paz, pensar com seus botões. Davi havia conseguido lhe colocar de volta as suas incertezas e medos. Talvez, ele só tinha lhe posto de volta a realidade, mas ela estava gostando de sonhar em seu novo mundo. Este onde ela era mais segura, mais feliz, mais leve, e menos triste. Mundo que ela havia pintado todas as paredes com os bons momentos de sua vida; sua infância, a boneca que ela mais quis e a irmã quebrou, o abraço, o cheiro, o sorriso, da mãe que via tão poucas vezes, seu primeiro sapato de salto alto, o enfeite de borboleta que amava colocar no cabelo, e principalmente as boas lembranças com Math. Sophia era perfeitamente capaz de lembrar cada detalhe dos traços dele, seu sorriso, seu olhar doce, e sentia seu abraço. Mas seus momentos preferidos, eram quando Math estava lhe ensinando algo, mesmo que fosse preciso que ele brigasse com ela. E essa atitude lhe fazia brilhar os olhos, e derrepente quando ele acabava, ela dava um sorriso. E era isso do que ela sentia mais falta, dos ensinamentos de seu menininho, que sempre fora mais adulto e mais responsável que ela; ele que sempre lhe segurava a mão para atravessar a rua, e fazia cafuné quando ela deitava em seus braços, como se ela fosse a menininha dele. E ela era, e sabia... pra sempre seria.
Mais uma vez lágrimas escorreram pelo seu rosto. Saudades? Talvez. Era mais sofrimento e medo, de não ter mais seu menininho para cuidar dela, e isso lhe fazia sentir medo de tudo, do escuro, das pessoas, da rua, da vida. Sophia sabia, e pra outros parecia fraqueza e besteira, mas ela sabia, sem Math ela não sabia viver bem. E se ela ainda estava integra e consciente, fora porque Math a ajudou a ser melhor do que fora um dia, e ele também sabia disso.
Ouviu passos. Enxugou rapidamente as lágrimas, consertou o vestido e se ajeitou na rede. Era seu avô, que percebera sua ausência.
Não falou nada, apenas lhe estendeu a mão para que ela se levantasse, e assim o fez. E naquele quase silêncio lhe deu um abraço. 
Ela chorou, como uma criança que havia caido e ralado os joelhos, e se apavorado em ver o sangue escorrer. Ela chorou nos ombros do avô, assim como no dia que sua mãe havia lhe deixado, e escolhido viajar pelo mundo com sua nova família. Ela chorou, e continuava a chorar, e agora, soluçava. Mas seu avô não importava que ela estivesse enxarcando sua camisa, e até incomodando seus ouvidos com os soluços. Ele sabia que tudo que ela precisava era de carinho, e um abraço. Mas ele não sabia, que da mesma forma que aquele abraço lhe era um alívio, era uma dor... o perfume do avô era o mesmo de Math, e lhe provocava mais saudade, do abraço que ela seria capaz de implorar para ter outra vez, uma única vez que fosse.
Quando a garota se acalmou, o avô lhe enxugou as lágrimas. Segurou seu rosto, e sorriu, da maneira mais doce possível. E lhe disse:
- Amar, nunca foi fácil pra ninguém, e a saudade quando aparece dói mais que todas as dores do mundo juntas. Porque com ela vem, a dor no corpo, no pescoço, a falta de apetite, e o desanimo. E por mais que você chore, nada lhe fará ter Math novamente, a menos que você diga pra ele, tudo o que sente e o que sonha construir ao lado dele. Então, quando for pra casa amanhã, tome um banho, se acalme, e ligue para ele no fim da noite, mas só o encontre num dia claro, sem chuva e que você não tenha chorado. Diga a Math tudo que você ainda não conseguiu dizer, por mais que tentasse que ele te ouvisse, e não tenha medo de tentar, porque quem cai... levanta! Você, já caiu, que eu sei, se machucou e machucou a ele, mas aprendeu e intendeu seu tombo, e eu sei, você não vai mais querer essa dor. Então, se ele, mesmo te ouvindo, não quiser seu amor, se equilibre e tenha coragem de seguir em frente!
Sophia ouvia tudo com muita atenção, e chorava outra vez, mas no final, deu um sorriso lindo, e abraçou seu avô materno, com toda a força que tinha. 
Riram juntos, e ele segurando suas mãos, a levou até a porta do banheiro de seu quarto e disse pra ela se arrumar outra vez, e fazer com que aquela noite fosse boa e alegre pra ela, independente de Math.
Fechou a porta, sentou no chão branco e seco, e chorou mais um pouco, e as palavras de seu avó ecoavam em sua mente. E logo, se levantou, lavou o rosto, se olhou no espelho, e refez bem de leve sua maquiagem. Sorriu pra si mesma, e disse:  
- Se ele não me quiser, eu sei.. eu quero a mim mesma!
Voltou para a festa, dançou junto aos primos, e os amigos e amigas dos primos. Os olhares já não lhe incomodavam mais, e dançou como ela quis, como ela sentia vontade, mesmo que pra todos parecesse errado e estranho, bastava que ela estava se divertindo, assim como ordenara seu avô, seu alto e lindo avô.
No dia seguinte, segunda-feira pela manhã, acordou disposta outra vez e sorrindo. Deu um beijo nos avós, e mais uma vez se fartou dos bolos e geléias da avó, e como de costume, comeu seu bom e apaixonante queijo. Ela ria em seus pensamentos, pois era engraçado como ela amava queijo, e ele lhe dava tanta felicidade, como pra outras meninas aconteia com o chocolate.
Arrumou suas malas, se despediu de todos, e dos avós. Faltou Davi, ela percebeu, mas logo ignorou. Deu um ultimo abraço forte na avó, e agradeceu por tudo. Disse que logo voltaria para a chácara, e dessa vez estaria mais divertida. Seu avô pegou suas malas, pos no carro e a levou até a estação de trem. Soph, não sabia bem o que dizer ao avô, e até exitou em lhe dar um abraço, pois ele sempre fora rigido e calado. Mas não conseguiu se conter muito, lhe deu um abraço muito forte e sorriu. Agradeceu pelas palavras e pelo abraço, pois lhe fizera muito bem. O avô lhe deixou ali na estação, pois logo o trem chegaria, e voltou para a chácara.
Sophia admirou o avô ir embora no seu carro de época verdinho, e que parecia novo. Mas admirou mais ainda, quem era o seu avô. Uma personalidade forte, séria, porém, bondoso, lindo, e carinhoso. Ela intendeu o porque de sua avó sendo tão faladeira, estar ao lado daquele homem, é que ele era especial, como um anjo.
Se sentou num banco, e viu no relógio que em 10min o trem chegaria.
Alguns minutos depois, aparece Davi, sério e com o olhar fixo nela. Sentiu medo, mas encolhiu e enfrentou o olhar.
- Não poderia deixar você ir, e eu não me dispidir.
- O que você quer?
- Um abraço oras!
Ela lhe deu um abraço, que parecia mais que ela estava apenas colocando as mãos em seus ombros. Super frio, calculado e distante.
Ele a olhou com um olhar mal intecionado, como quem planejava algo. Ela percebeu logo, e se afastou, encarando-o séria. E começou a intender o aviso de sua avó.
O trem estava chegando e todos se levantaram para subir no trem. Ela se afastou de Davi, e lhe disse apenas:
- Não chegue perto de mim outra vez, ou meu avô saberá de sua intenções.
Pouco adiantaria aquele aviso, que nem havia o entimidado. Mas para ela parecia um ato de coragem, pois era como se tivesse o enfrentado.
O moço do trem, pegou suas malas e a ajudou a subir.
Ela procurou seu acento, e se acomodou. Ainda nervosa e com as sombrancelhas franzidas por causa do estupido garoto, procurou seu mp4 e pos a musica que sempre ouvia com Math para tocar. Em instantes o trem faz um barulhão e saiu. Lhe dando um alívio e calma, de saber que ela estaria bem longe de Davi. Esqueceu a lembrança que a incomodava, e logo pegou no sono. E assim foi, durmindo durante algumas horas de viagem, de volta pra casa e mais perto de Math.

2 comentários:

  1. Gostei do conto.. vai continuar?

    Estou retribuindo a visita que fez ao meu blog, e fiquei feliz por ter uma nova seguidora que leu os meus pots... =D

    Estou te seguindo também... Teu blog é encantador!
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. oi querida!
    mt obg pela vizita!
    volta? postei sobre a profissão: VETERINARIO!
    BJinhus

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Textos com autoria de Carolina Rosseto. Se copiar, copia a autoria.
Layout base por Difluir e modificado por Isabella Ramos