# Um conto - parte três

Ainda era madrugada quando ela abriu a porta de maneira silenciosa. E o silêncio era ainda maior na sala de estar. Deixou as malas perto do sofá, tirou a sapatilha, e subiu as escadas bem devagar. Não queria acordar o pai e a irmã.
A porta do quarto estava fechada, assim como havia deixado há um mês. Era bom ver os bichinhos de pelucia outra vez e o colorido do quarto, pensara Soph.
Sentou-se no tapete infantil, e ficou alí olhando as fotos dela e Math, e algumas de sua infância ao lado da mãe. Duas pessoas que ela desejava ter outra vez, a mãe e o amor. Era difícil olhar as fotos, e não chorar de saudade. Não querer reviver os momentos congelados pelo flash. E cada momento ali exposto passava por sua memória, e até a infância era clara em sua mente. Chorar não adiantava, mas aliviava a dor.
Foi até seu banheiro, e pos a banheira para enxer. Desceu, e pego uma mala de cada vez, carregando-a no colo. Bastou duas viagens. Em uma das malas estava seu roupão de banho branco com flores roxas. Pos em cima da cama. Soltou os cabelos, se despiu devagar, e com o roupão nas mãos foi para a banheira que já estava cheia.
O molho durou até quando os dedos dos pés já estavam enrugados. E pela pequena janela do banheiro via, o sol começara a dar sinal que ia nascer. Mas mesmo assim ela nem se movia, e só conseguia pensar nos ultimos meses, tão conturbados, mas de mudanças.
Soph se levantou da banheira, se enxugou com a toalha que havia dentro do armário, e vestiu o roupão depois.
No quarto, pos uma calça de moletom, uma blusa da Minnie, e um cardigan de lã branco, apesar do sol, estava frio. Calçou os chinelos e desceu pra cozinha, marcando seu trajeto com as gotas de agua que escorriam do cabelo. No mesmo silêncio que subira, descera para não acordar ninguém.
Enxeu uma tigela com cereais, e sentou-se ao lado da bancada, olhando para a porta que dava para o quintal. Lembrou de quantas vezes correu aquela grama com Math, brincando de pega, ou fugindo das cosquinhas. Uma lágrima interrompeu sua mastigação. A enxugou, e continou seu café da manhã.
O sol já havia nascido, anunciando o inicio do dia, e Soph foi para o quintal, sentar na cadeira de madeira. Ficou ali por alguns minutos, pensando como encontraria Math, afinal, havia um mês que tinha sumido e só o pai sabia para onde ela tinha ido, se a irmã soubesse, certamente em poucas horas a vizinhança saberia que o namoro com Math tinha acabado, e ela fugira da situação.
Mas não era bem assim. Soph tinha ido para Minas pensar no que acontecera, e no que realmente sentia por Math. Não estava fugindo da situação, ele havia fugido dela, e não queria conversar.
A viagem foi um encontro de Sohp com ela mesma. Reavaliação de valores e sonhos, e ela encontrou seu equilíbrio. Agora ela estava pronta para procurar Math, e conversar, se ele permitisse. Ela havia descoberto um sentimento novo, que queria dividir com ele.
Se levantou da cadeira do quintal e foi desfazer a mala, até dar um horário possível de encontrar Math em casa.

.. continua...

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